terça-feira, 31 de março de 2009

Grandes corridas da Formula 1

GP da Alemanha de 1957

No dia 4 de agosto, de 1957, há quase 52 anos ocorreu aquela que talvez tenha sido a maior atuação de um piloto na história do esporte à motor. Uma exibição de talento, técnica, arrojo e sobretudo naquela época, coragem. A vitória no grande prêmio da Alemanha de 1957, que viria a ser a última de Juan Manuel Fangio na Fórmula 1, deu à ele seu quinto e derradeiro título, com duas corridas de antecipação.

Nürburgring Nordschleife é, sem dúvida, o mais desafiador circuito já construído na história. Com 22km, 182 curvas (decoradas pelo belga Jack Ickx), subidas e descidas que proporcionavam (e proporcionam) saltos, uma combinação alucinante em prol da velocidade. Participou do calendário até 1976, quando foi ceifada devido ao acidente que quase vitimou fatalmente Niki Lauda (chegou a sofrer a extrema-unção).

Inferno verde foi o apelido dado ao circuito que cortava as florestas alemãs pelo tricampeão Jackie Stewart. Não era contemporâneo de Fangio, em 57 não havia ainda esse apelido.

Na prova de 1957, válida pelo oitavo mundial de Fórmula 1, Fangio marcou a pole com o tempo de 9min25.6s, 2.8s à frente do inglês Mike Hawthorn. Era um bom início de fim de semana, pois com a vitória, Fangio garantiria o título antecipadamente. O grid de largada mostra diferenças absurdas para os moldes atuais, mas para um circuito daquela extensão, não é tão absurdo pensar em 2.8s. Fazendo um exercício de cálculo, num circuito em que se dá uma volta em 1min30s, não é incomum conseguir uma diferença de 3 décimos de segundo, ou seja, 0,3% do tempo total de volta. Fangio alcançou uma diferença de pouco menos de 0,5% do tempo de sua volta. Uma bela volta, mas nada tão impossível. O que chama atenção são as diferenças para os demais, no grid de largada abaixo:

Grid:
1) Fangio(Maserati) - 9:25.6
2) Hawthorn(Ferrari) - 9:28.4
3) Behra(Maserati) - 9:30.5
4) Collins(Ferrari) - 9:34.7
5) Brooks(Vanwall) - 9:36.1
6) Schell(Maserati) - 9:39.2
7) Moss(Vanwall) - 9:41.2
8) Musso(Ferrari) - 9:43.1
9) Lewis-Evans(Vanwall) - 9:45.0
10) Gregory(Maserati) - 9:51.5

Fangio pilotava uma Maserati 250F, ante as Ferraris 801 F1 de Hawthorn e Collins e vinha de um campeonato excepcional, com vitórias em Buenos Aires, Mônaco e Rouen e um abandono em Silverstone por quebra de motor. Três vitórias em quatro. Garantiria o título com a vitória no Nordschleife, ainda restando duas provas para o fim da temporada.

A tática de Fangio era valer-se de um carro mais leve que as Ferraris para abrir 23s que seriam suficientes para realizar um pitstop para reabastecimento e troca de pneus. Essa tática foi adotada pois os pneus da Maserati eram os Pirelli, mais macios e que não manteriam um bom desempenho ao fim da prova. Largou com pouco mais que meio tanque mas titubeou e permitiu o avanço da dupla ferrarista para a ponta da corrida, seguidas por Jean Behra. Saiu à caça e ao final da segunda volta, já ponteava a corrida. Precisava agora apertar o ritmo para conseguir a diferença necessária para realizar o pit stop com tranquilidade.

Foi baixando o tempo de volta gradativamente (bateu o recorde de volta 5 vezes) até que, ao final da volta 11, adentrou os boxes com o tempo de 9min29.5s, batendo pela sexta vez e agora em impressionantes mais de 10s o recorde de volta em prova da Lancia do ano anterior. Tinha 29s de vantagem, diferença mais do que suficiente para voltar para a prova na ponta. Estacionou seu carro nos pits, desceu e tomou um copo d'água enquanto esperava pelo serviço dos mecânicos. Bólido reabastecido, um, dois, três pneus trocados. Porém, um dos mecânicos põe tudo a perder. Deixa cair uma das porcas e não a encontra, enquanto Fangio, atônito, vê Hawthorn e Collins rasgarem a reta à sua frente. Encontrada a porca, serviço completo, Fangio retorna à pista, só que com uma desvantagem de 45s para as Ferraris.Fangio teria que operar um milagre para conseguir a vitória. Nas duas voltas seguintes ao pit stop, nada aconteceu, chegou mesmo a perder terreno para a dupla ferrarista. Poucos sabiam que naquelas duas voltas, o argentino aqueceu perfeitamente os pneus e usou o ritmo mais lento para confundir os cronometristas da Ferrari, em tempos de cronometragem totalmente manual e pouco precisa. Fangio começou a tirar a vantagem gradativamente e tinha 33s de desvantagem na volta 16, só que começou a bater recordes atrás de recordes nas voltas seguintes, com tempos inacreditáveis: 9:28.5s, 9:25.3s, 9:23.4s e o espantoso 9:17.4s, 8 segundos mais rápido que o tempo da qualificação. Há relatos de que Fangio deu saltos em colinas, contornou curvas flat e fez malabarismos que nunca tinham sido vistos até então. Fangio chegou mesmo a controlar o bólido a 230km/h em derrapagem controlada, sem aliviar o pé do acelerador, num ponto em que havia uma freada forte.

Ao abrir a volta 21, Fangio tinha apenas 2s de desvantagem para Peter Collins. Não demorou até que ele ultrapassasse Collins, na Sudkurve, mas chegou a tomar o troco. Ultrapassou de novo e foi buscar Hawthorn. O público, embasbacado com o desempenho de Fangio, aguardava pela abertura da última volta, com Fangio e Hawthorn disputando a ponta mas o que se viu foi Fangio cruzando a linha já na liderança. E abrindo mais 3,6s, num ritmo mais brando durante a volta para completar aquela performance inacreditável.

Hawthorn disse que não havia nada que pudesse fazer para impedir a vitória do argentino. Fangio ainda disse que nunca havia dirigindo daquela forma e que nunca mais assumiria aqueles riscos.

A lendária performance chegou a suscitar dúvidas com gente dizendo que Fangio cortava caminho por uma curva, mas o fato é que naquele dia, quem estava próximo às curvas, dizia q a face de Fangio estava endiabrada e que ele poderia fazer qualquer coisa.

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