Fim da discórdia, F1 está salva

E finalmente a notícia que todos os amantes da velocidade aguardavam, veio nesta quinta-feira. Foi costurado o acordo entre a FOTA e a FIA e haverá um campeonato único de F1 em 2010, como sempre foi e como sempre deverá ser.

Durante a madrugada, os presidentes da FIA, Max Mosley, da FOM, Bernie Ecclestone e da FOTA, Luca de Montezemolo se reuniram algumas vezes e chegaram a um consenso, que foi apenas amarrado durante a reunião do Conselho Mundial, hoje pela manhã.

Coletiva com Mosley, Ecclestone e Montezemolo - foto: Gareth Watkins/Reuters

O grande passo foi dado por Max Mosley, que aceitou deixar a FIA nas próximas eleições. Além disso, as negociações sobre redução de custos avançaram rapidamente, sendo que o teto orçamentário também pôde ser retirado do regulamento, substituído pela proposta do FOTA, que pretende reduzir os valores até se aproximarem dos praticados na década de 90. Um novo Pacto da Concórdia será assinado até 2012 e a FIA terá um mandato de transição, assumido por Michel Boeri, presidente do senado da FIA.

Com o campeonato confirmado e com as mudanças menos drásticas sendo aceitas por ambas as partes, a FIA não tardou em divulgar a lista de equipes para a próxima temporada. Nenhuma surpresa, visto que as três novas equipes já eram conhecidas e apenas ganharam a companhia das equipes atuais, agora incondicionalmente.

Saem fortalecidas da crise as montadoras, representadas por suas equipes na F1. Mosley, pelo visto, chegou próximo do que queria e sua saída FIA já era esperada. Ele só resolveu concorrer à reeleição para pressionar as equipes. No fim das contas, as equipes venceram a queda-de-braço, mas a FIA conseguiu reduzir os custos. E foi só Ecclestone resolver negociar, hábil que é com a experiência de 40 anos na categoria, que o acordo saiu.

Se tem algo de interessante para os fãs da F1, é que teremos um campeonato cheio e disputado em 2010. Só isso importa. O resto, deixemos com os dirigentes que no fim eles sempre se entendem.

E quem se lembrou dos carros na pista?

• Dia marcado por troca de acusações entre FIA e FOTA e impasse permanece - com a falta de uma resposta da FIA ao comunicado, o paddock da F1 permaneceu atônito. Max Mosley e Bernie Ecclestone permaneceram mudos ao chegarem ao autódromo e serem cercados pelos jornalistas. Se trancaram no motorhome da FOM. Um comunicado sucinto por parte da FIA foi liberado à imprensa, sublinhando a falta de habilidade da FOTA em buscar uma solução conjunta. As equipes começaram a se manifestar, com Fry, da Brawn, dizendo que foi a FOTA que sempre buscou acordo e Horner, da RBR, dizendo ainda ser possível um acordo, embora esteja distante e que só viria através de Ecclestone. A McLaren se manifestou pela primeira vez e citou um campeonato com grandes equipes e pilotos, sem falar que o organizaria, enquanto os pilotos também manifestavam seu apoio às equipes amotinadas. A FIA, por sua vez, adiou o anúncio das equipes inscritas para 2010 e entrou na justiça contra o campeonato paralelo. A Force India resolveu esperar por uma definição das partes, enquanto a Williams reiterou a posição pró FIA. Por fim, a FOTA fez um convite às equipes inscritas no mundial de 2010, com possibilidade de que a Campos aceite. Não há certo, não há errado. É a maior crise da história da categoria e que pode se arrastar por meses, com nenhuma das partes querendo ceder e muito menos se separar. Uma pena, a competição está hoje em segundo plano.

O racha consolidado...

• FOTA se reúne na sede da Renault e decide por romper com a FIA - no fim da noite desta quinta-feira as equipes, que estiveram reunidas em Enstone, emitiram um comunicado que veio de encontro ao acordo que se aproximou ontem. A FOTA, que parecia propensa a inscrever seus times junto à FIA para o campeonato de 2010, decidiu criar seu próprio campeonato. No comunicado, a reclamação mais latente, junto com o regulamento que vinha sendo o impasse, a FOTA citou o velho problema da divisão dos lucros da categoria, centralizados que ficam nas mãos de Bernie Ecclestone. Todos os passos que foram dados adiante no dia de ontem, foram dados em dobro pra trás hoje. Não significa que não possa haver um acordo, mas nunca houve tanto distanciamento entre as partes. Para Ecclestone, a situação é mais complexa, já que seu império está em jogo pois os patrocinadores procurarão as equipes fortes. E as equipes fortes parecem ter como motivo principal o controle financeiro da categoria, muito mais que o controle legislatório que Mosley tanto controlava. E talvez esteja aí a tão complicada solução do impasse: Ecclestone deveria ceder no controle financeiro da F1. Mosley já parece ter feito a parte dele e na verdade parece até mais uma desculpa das equipes a discordância com o regulamento. Elas querem é uma parte maior da fatia do bolo que é a F1.
  

Um exercício de imaginação: como seria a F1 depois do racha?

Uma F1 rachada. Pela primeira vez, depois de algumas semanas de trocas de farpas, entrevistas ríspidas concedidas por Max Mosley e Luca de Montezemolo, reunião, entre membros da FOTA, membros da FIA e encontros das partes, vislumbrei a possibilidade do racha realmente acontecer. E mesmo que não aconteça, o que seria da F1 se realmente ele acontecesse?

Uma comparação com a cisão ocorrida no final de 1995 na Formula Indy é inevitável. Enquanto Tony George, detentor da marca Indy por ser o dono do oval de Indianápolis, ficou com equipes menores, carros defasados e pilotos desconhecidos, a CART ficou com as principais equipes (Penske, Ganassi e Newmann-Haas, por exemplo) e os principais pilotos. Cada categoria tinha seu trunfo, embora o de Tony George, com as 500 milhas de Indianápolis fosse bem menor.

A marca F1 é bem mais forte que a Indy e já tem como inscritas algumas equipes, dentre elas a Williams que tem uma história vencedora na categoria, embora esteja passando por maus momentos na categoria e é certo que Max Mosley conseguiria que algumas equipes se juntassem ao seu campeonato. Do outro lado, temos a gigante Ferrari, com quase todas as equipes a apoiando na tentativa de uma nova categoria. O racha seria maior, porque os trunfos de cada lado se equivalem. A marca F1, de Bernie Ecclestone é suficiente para levar um campeonato com interesse, independentemente das equipes, enquanto a Ferrari, junto com McLaren, Renault, BMW e Toyota também tem força para atrair o público.

Ou seja, enquanto na Indy as atenções ficaram concentradas na CART durante algum tempo, na F1 as atenções seriam totalmente divididas.

E a transmissão, como ficaria? Quem transmitiria o que? Com Bernie Ecclestone à frente da FOM, que transmite a F1 e apóia Max Mosley, as redes televisivas que têm os direitos da F1 nas próximas temporadas, inclusive a Rede Globo, teriam que transmitir a F1, enquanto a categoria da FOTA teria que brigar por espaço na mídia. Mas muitos fãs vão preferir a categoria que a Ferrari disputará, migrando para quem transmiti-la.

Quem seria campeão oficial do quê? Como ficariam as estatísticas? Haveria o risco de alguém se tornar mais absoluto que Schumacher numa categoria mais fraca? Rosberg campeão da F1 pela Williams ganhando todas as corridas da temporada?

O que todos esperam, inclusive FIA, FOM e FOTA, é que a situação seja resolvida da melhor maneira possível, que é a inscrição de todos os times para 2010. A cisão da Indy ensinou muita coisa. Mas parece que os dirigentes da F1 teimam em não aprender.

Atuais equipes, tem inscrição confirmada. Em termos...

• Definidas as 13 equipes da F1 em 2010 - depois da reunião de ontem entre FOTA e Max Mosley, a lista das equipes não tardou a ser divulgada nesta sexta-feira. Além das de Williams e Force India, que já haviam confirmado sua inscrição, Ferrari, Toro Rosso e Red Bull também tiveram suas inscrições incondicionais confirmadas. Toyota, Renault, McLaren, BMW e Brawn estão na lista, ainda que com um asterisco. E as novas equipes são a USF1, a Campos e a sequer cogitada Manor. A lista ainda está no meio de uma briga. Surpresa a ausência da Prodrive, que parecia a mais certa das novas equipes. E a Manor, ninguém conhece, ninguém viu.

• Ferrari critica seu nome na lista - a equipe de Maranello enviou nota à imprensa informando que sua inscrição permanece em tom condicional, até que a FIA aceite as condições de regulamento impostas pela FOTA. O nome na lista se dá pelo contrato vigente entre os italianos e a FOM. O mesmo vale para as equipes irmãs RBR e STR, que reiteraram apoio à FOTA e não confirmaram a inscrição, assim como a Ferrari. E a novela continua.

• Cinco equipes com inscrição condicional têm até dia 19 para regularizarem situação - um novo prazo foi dado pela FIA para que as negociações com a FOTA sejam levadas ao cabo e todas as equipes sejam confirmadas definitivamente. A Ferrari, mesmo confirmada, é a que vai dar mais trabalho para confirmar a inscrição. Brawn, McLaren e BMW serão mais maleáveis. E Renault e Toyota são uma incógnita ainda Podem até debandar.
  

Notícias do dia - 16/05

• Mosley volta a afirmar que F1 não precisa da Ferrari - depois da reunião com as equipes, o presidente da FIA colocou mais lenha na fogueira, dizendo que se a equipe italiana deixar a F1, o baque sentido seria comparável com o da morte de Senna, além das saídas da Brabham e da Lotus. Perdas grandes, mas não irreparáveis. Outra pancada grande na Ferrari foi quando Mosley disse que recebeu, através de mensagem em seu celular, a notícia que a Ferrari pretende processar a FIA antes de Domenicalli, que foi ridicularizado pelo dirigente. É uma queda de braço grande. Talvez a maior da história. Mas continuo acreditando numa solução muito agradável a todos.

• Ecclestone não acredita no regulamento de 2010 - o dono da marca F1 afirmou que não acredita que o parágrafo que estipula duas regras diferentes inviabiliza o regulamento e que o teto pode ser modificado para que todas as equipes cheguem a um consenso. E aproveitou para chamar a Ferrari de idiota por acionar a FIA nos tribunais parisienses. Mas um indício de que tudo se resolverá, mais hora, menos hora. Ecclestone e Mosley, juntos, são muito fortes.
  

Notícias do dia - 15/05

• Flins-Les-Mureaux vê início de construção de pista para abrigar a F1 - cidade ao noroeste de Paris tem planos de receber a F1 já em 2011. A França está sem GP em 2009 e 2010, coma saída da bucólica Magny-Cours. Bom saber que a França investe pra voltar a ter um GP. Resta saber se Bernie vai querer voltar a incluí-la no calendário.

• Lola declara oficialmente que se inscreverá para a temporada 2010 - na madrugada europeia, a equipe que já esteve na F1 publicou em seu site uma nota dizendo que, com o teto orçamentário, a equipe tem planos concretos de ingressar na F1 na próxima temporada. Um grande apoio a Max Mosley, como se vê a seguir.
  

• Reunião não termina em consenso e Ferrari entrará na justiça - apesar do bom trato entre as partes, Max Mosley não cedeu em mudar o regulamento e as equipes permaneceram irredutíveis, inclusive com a Ferrari - sem Montezemolo que perdeu o pai na Itália - afirmando entrar na justiça francesa para derrubar o teto orçamentário da FIA. Tudo isso mostra que a briga é mais séria, mas que a ameaça da Ferrari de sair da F1 realmente era um blefe. Domenicalli, inclusive afirmou hoje que a F1 é a vida da equipe italiana. Aguardemos cenas dos próximos capítulos, que prometem ser rápidos, devido a proximidade das inscrições de equipes para 2010.
  

Notícias do dia - 14/05

• FIA, FOM e FOTA se reunem na sexta - Ecclestone, Mosley e as equipes vão se encontrar em Londres para, obviamente, discutirem o impasse gerado pelo teto orçamentário criado pelos dirigentes. As inscrições para o campeonato de 2010 terminam no final do mês e a solução do impasse tem de ser rápida. Briatore inclusive declarou hoje que todos tem de se acertar para o bem da F1. Não demorou muito pra toda essa pirotecnia começar a se desfazer. É claro que todos vão se acertar e provavelmente ninguém sairá ao menos arranhado. Mosley e Ecclestone conseguiram, com mais uma polêmica, colocar a F1 no topo dos noticiários. Nesse momento devem estar tomando um bom Brandy e fumando um charuto, satisfeitos que estão com a visibilidade que tiveram.

• Piquet afirma que seu filho foi melhor que Alonso na Espanha - e admitiu que foi pela primeira vez. Por não ter o difusor que Alonso possuiu, Nelson Piquet disse que Nelsinho perdia cerca de dois décimos por volta em relação ao espanhol, sendo que o brasileiro perdeu por apenas um décimo na classificação. Sim, Nelsinho teve ótimas sexta e, principalmente, sábado, com uma boa qualificação. Porém, fez uma corrida apagada e, enquanto Alonso fez bons 4 pontos, Nelsinho sequer apareceu durante a transmissão.

• Roma projeta pista de rua no calendário da F1 - corrida seria realizada num traçado de 4,6km, no bairro EUR e não impediria a realização do GP da Itália em Monza. Corridas de rua são usualmente tediosas e um circuito em Roma não acrescentaria nada à F1. Enquanto isso, pistas como Estoril, Hockenheim, Montreal e Imola perderam seus lugares.

• USGPE pretende testar carro no fim do ano - equipe americana de Cleveland que almeja ingressar na F1 em 2010 quer testar entre novembro e dezembro. Logo saberemos se os planos são realmente sérios se a equipe se inscrever oficialmente. Só falta todo o resto: chassis, motor e pilotos.